Pragmatismo imoral

Volto a escrever no intuito de discutir os fatos a cerca da adoção da palavra “pragmatismo” no cenário atual. Principalmente sobre dois fatos específicos: 1) a adoção do termo para justificar a aproximação com governos estrangeiros, que de maneira mais branda afrontam os direitos humanos e, 2) a ordem da Ferrari para Felipe Massa dar passagem ao Fernando Alonso.


No primeiro caso, justificar a imoralidade da aproximação e, muitas vezes, apoio do governo brasileiro aos regimes considerados de exceção ou regimes ditatoriais transvestidos de democracias é no mínimo imoral. Pior é sustentar essa posição pragmática sob a égide das discrepâncias entre a esquerda e a direita. A maioria da população se quer sabe as diferenças conceituais entre as duas, e muitos que se arvoram como de esquerda não sabem do que estão falando. Dizem ser de esquerda, mas nessa hora não são pragmáticos, não têm práticas de esquerda, não tem fundamentação teórica e nem empírica, apenas um discurso oportunista. O que coloca muitas vezes as políticas internacionais brasileiras em posições farsescas. O que destoa completamente do pragmatismo da política econômica interna.

No segundo caso, em nome do jogo de equipe fraudou-se o resultado do evento esportivo. Vamos fazer alguns exercícios. Como ficam as casas de apostas na Inglaterra onde a aposta é regulamentada? Quantos ganharam e perderam com a atitude da Ferrari. Como fica a imagem dos patrocinadores que investem milhões de dólares em patrocínio para associar suas marcas ao esporte, sucesso, pilotos e equipes vencedoras? As grandes companhias investem milhões em relacionamento com clientes, com ações de responsabilidade social, com práticas de sustentabilidade e se vêem unidas pela fraude. Muitos atletas pegos em exames de antidoping perderam seus patrocínios, pois as empresas não querem a associação de suas marcas com atos ilícitos ou que maculem suas ações. Ora, o que a Ferrari fez não está nessa categoria? Ela interferiu diretamente no resultados de uma competição. Pois não acredito que o Felipe perdesse a posição em pista.

Qual o impacto desses atos para nossos filhos e gerações? Como fica o esforço em dizer aos mais jovens que temos que trabalhar honestamente, batalhar pela vida, ficar a margem de atitudes imorais, se no domingo de manhã somos apresentados a farsa, ao ato inescrupuloso de uma equipe que é multireincidente. Se o Felipe no final do campeonato estiver à frente de Alonso o que a Ferrari vai dizer?

Não posso fechar sem comentar a ultrapassagem de Barrichello sobre Schumacher. O ato de arremessar o brasileiro no muro é mais uma prova do pragmatismo imoral. Ao final da corrida, ele disse que a manobra foi normal. Só após a manifestação da imprensa mundial contra a manobra, inclusive dos jornais alemães. O Bild, por exemplo, estampou a seguinte frase “que vergonha, Schumi”. Ele pediu desculpas pela manobra em seu site. Mas podemos esquecer que a frase postada no site pedindo desculpas, nada mais é que a ação da assessoria de imprensa para minimizar as críticas. Só para encerrar o Schumacher também é multireincidente do pragmatismo imoral.

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